O Peso Invisível: Como o preconceito de cor, gênero e região impacta a saúde mental.
- Instituto Comviver
- 22 de abr.
- 3 min de leitura
Por Dra. Ana Celeste Pitiá.
Vivemos em uma sociedade onde o preconceito ainda é uma ferida aberta. Seja por cor, gênero ou classe social, esses estigmas silenciosos (e muitas vezes normalizados) podem afetar profundamente o modo como a pessoa se vê e se sente no mundo. E isso, claro, tem efeitos diretos sobre a saúde mental.
Neste texto, quero explorar como essas formas de preconceito de cor, gênero e região funcionam como gatilhos de sofrimento psíquico e por que buscar ajuda psicológica pode ser essencial para o desbloqueio emocional e a construção de uma vida mais leve e significativa.

Preconceito como forma de violência emocional
O preconceito não é apenas uma opinião – ele se manifesta como violência simbólica, que deslegitima, desumaniza e silencia.
O sociólogo Pierre Bourdieu chamava isso de violência simbólica, uma forma de dominação que atua de maneira sutil, porém profunda, sobre os indivíduos, muitas vezes levando-os a introjetar ideias negativas sobre si mesmos.
Por exemplo: uma mulher negra, ao ser constantemente tratada com desconfiança ou subestimada em ambientes profissionais, pode desenvolver insegurança, baixa autoestima e ansiedade social. Isso não acontece “do nada” – é resultado de uma repetição de situações que sinalizam, direta ou indiretamente, que ela vale menos.
Gênero, cor e classe: camadas que se sobrepõem
A interseccionalidade, conceito trabalhado pela jurista Kimberlé Crenshaw em 1989, nos ajuda a entender como diferentes formas de opressão se combinam e se intensificam. Ela analisa como diferentes categorias de identidade, como raça, gênero, classe social, orientação sexual, etc., interagem para criar experiências e formas de discriminação únicas. Dessa maneira, ela observou que a discriminação não é apenas um problema de raça ou de gênero isoladamente, mas sim um efeito da interseção dessas categorias, resultando em experiências específicas e complexas.
Portanto, preconceito de cor, de gênero e de classe não são experiências isoladas – muitas vezes, estão entrelaçadas.
Uma mulher trans negra da periferia e nordestina, por exemplo, pode enfrentar o racismo, a transfobia, o elitismo de classe e o preconceito regional - a xenofobia – esse último muitas vezes manifestado como manifestação interna, em piadas, estereótipos ou desprezo pela sua forma de falar, vestir, ou de se posicionar. Essas experiências podem gerar sintomas como:
Tristeza profunda ou persistente
Sensação de inadequação constante
Medo de se expor ou de ocupar espaços
Dificuldade de confiar em si e nos outros
Sensação de cansaço emocional crônico

O sofrimento psíquico e o silenciamento
Muitas vezes, quem sofre os impactos do preconceito nem sempre identifica de imediato que está adoecendo emocionalmente por conta dessas violências sociais. O sofrimento, nesse contexto, costuma ser silencioso – não porque seja pequeno, mas porque a sociedade não valida essas dores. Pelo contrário: muitas vezes, as naturaliza.
Frases como “isso é mimimi”, “é só brincadeira” ou “leva tudo muito a sério” deslegitimam a dor e fazem com que muitas pessoas se calem – inclusive diante de ofensas e exclusões baseadas na sua origem regional.
Aqui entra o papel da psicologia: oferecer um espaço seguro, ético e acolhedor para que essas dores possam ser nomeadas, compreendidas e, pouco a pouco, ressignificadas.
Desbloqueio emocional e reconstrução de identidade
O processo terapêutico é, entre outras coisas, um caminho de libertação. Ao trabalhar essas dores internalizadas, é possível:
Reconhecer o valor próprio, para além dos estigmas sociais
Reescrever narrativas de identidade que foram marcadas por exclusão ou vergonha
Criar recursos internos para enfrentar o preconceito com mais força, consciência e equilíbrio
Retomar a confiança em si mesmo e na própria história
Esse “desbloqueio emocional” não é sobre ignorar a realidade, mas sobre lidar com ela de forma mais saudável, desenvolvendo autonomia emocional e autorrespeito.

Aqui, um convite ao cuidado!
Buscar ajuda psicológica não é sinal de fraqueza – é um ato de coragem e de cuidado consigo.
Se você sente que carrega um sofrimento que não consegue explicar, se tem a sensação de estar travado emocionalmente ou vive em constante estado de alerta... talvez seja hora de olhar para isso com mais carinho.
Você não precisa lidar com tudo sozinho(a). Sua dor importa. E merece ser acolhida com respeito e escuta qualificada.
No meu trabalho como psicóloga clínica, ofereço um espaço seguro para isso, acolhendo suas dores e o seu sofrimento, a partir de quem também, como mulher, parda e nordestina, conhece de perto o preconceito de gênero, raça e a xenofobia.